terça-feira, 15 de setembro de 2009

Auto-retrato

Auto-retrato

A única coisa que não se modificou na minha consciência em meio a todas as perturbações foi a certeza de que aquilo precisava mudar. O inconformismo com a situação era o meu resquício de esperança, o “combustível” que ainda me motivava a ir atrás do que sonho – e meu corpo, que é o meu veículo, precisava ser reabastecido. Eu nunca me permiti desistir, apesar do cansaço da minha mente. E, por ser tão jovem, sinto que isso pode acontecer de novo, mas não foi por acaso que o sofrimento ocorreu. Não me rebelo em relação a isso, pois posso, agora, perceber que me foi concedida a oportunidade de, ainda em tenra idade, obter respostas e motivações que levarei para toda a vida.

Se, há pouco, era difícil até respirar, hoje posso dizer que encho meus pulmões de ar e, ao mesmo tempo, preencho meu peito de vida. Eu sou dona da minha cabeça e do meu destino; sou quem escreve a minha história. Posso dizer que optei por ser livre, por pensar criticamente acerca de todas as informações que chegam até mim, e selecionar o que vale a pena absorver, acreditar e seguir. Ao mesmo tempo, tenho a autonomia de descartar aquilo que não ter valor e me afastar de tudo o que me faz mal.

Nesse momento em que me veio a necessidade de transcrever parte daquilo que se passa comigo, me sinto bem, alegre e VIVA. Me apropriando de palavras que não são minhas, e sim, de um amigo que as proferiu a mim, eu digo: sou uma grande árvore. O vento balança minhas folhas; se for um vento forte, movimenta até meus galhos. Mas minha raiz está fixa na terra, e nada me retira daqui. Sendo assim, em alguns momentos, me sentirei “mexida” e até angustiada, mas tudo aquilo que eu acredito, permanecerá em mim, e sempre terei o poder de me reestabelecer. Eu sou forte, nada nem ninguém pode mudar isso.

Beatriz Pichinine Noronha.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009


Já, sentindo me caminhar aos poucos com meus próprios pés, posso enxergar .. a vida passa e não tão vagarosamente assim.
Observo aos mesmo tempo imagens dos extremos, os extremos de uma caminhada, os extremos do amor, da magoa, o vencimento de todas as culpas, o presente do perdão. Meu paizinho tão verdadeiro, meu filho, meu grande amor indo-se distante e devagar. Velho homem de passos curtos, andar arrastado, sobrevivente de uma morte impiedosa e covarde, ama a mim ainda, talvez ainda única linda flor em seu pequeno grande coração . Imploro-o que me acompanhe em qualquer circunstância, amo lindamente, saudosamente, infantilmente, culpadamente. Ainda aqui, a meu lado, sinto sua respiração, seus profundos sonos a tarde, sua cumplicidade sem fim, seu abraço tímido e sem jeito, seu choro abafado e constate, o inflar contido de suas bochechas, a magreza que o vício trouxe para confortar, a fraqueza e fortaleza ao falar, o consolo de suas palavras, o aconchego de seu colo sob a almofada, suas mãos leves e enrugadas a segurar, quase que tocando somente, as minhas.
De outro lado, sinto a leveza infantil, doce caçula, vinda repentina e tão dificilmente aceitável circunstância. Pequena menina, de meu mesmo tom de pele, chamada meia irmã, não possui a melhor parte de meus gens, que pena ! Lindo rostinho, desconhecido futuro, em meio a escolhas precipitadas, passos ao escuro, mais uma mulher sob masculina guarda, tão mais velha, tão menos madura, tão continuamente despreparado. Vendo o monstruoso paterno coração dos meus sonhos fundindo-se por tão pequenino ser, seria eu grande demais ?
Ela gosta de sentir-se amada e desejada, desde pequena. Ela já sabe o que é ser linda, ela sorri ao som de minha palavra, ela pensa num sei o que, ela implica com meu cabelo. Mas ela pode, porque é, inevitavelmente linda. E que possa florescer, num habitat tão incerto e infiel, que tenha sanidade e força de vontade, mais tarde, quando puder, assim como eu negar o que quiser e seguir fundo seu coração.

Tão inevitavelmente comprovo que o amor muda tudo de lugar e proporciona aos seres cegos o novo enxergar. Bebê, e de qualquer maneira meu. Não me peça em nenhuma circunstância para deixá-lo ir, assim como não pediu-me para chegar. Tenha em suas mãos meu coração pulsante de amiga, amada, irmã, mãe e neta.
Amo-te, lindos bebês !